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Exclusivo

“Não gosto da fama”

Como o título deste texto sugere, ele não quer aparecer fisicamente na mídia. Mas aparece, e muito bem, de outra forma. Apenas utilizando uma charge, Rica Perrone, uma paulista que adora o futebol e estilo carioca, tem marcado seu nome na imprensa esportiva, sobretudo nas redes sociais. Em uma entrevista exclusiva ao Blog Desburocratizando, ele fala sobre seleção brasileira, sua saída do portal Globo.com e inclusive, aposta em futuros campeões para a Copa do Brasil, Libertadores e Brasileiro. “Aposto em Botafogo, Fluminense ou Inter e… Santos”, afirma.




1. Por que utilizar uma charge?
Não gosto da fama. Me incomoda, tenho medo de não reagir bem. Enfim… prefiro ser um desenho do que ter que lidar com gente maluca achando que futebol é motivo de briga, ameaça, etc.


2. Você escreveu que sua saída do site do Globo Esporte foi motivada por questões de patrocínios. De certa forma, ter apenas o blog não te garante uma maior liberdade de expressão, no sentido de conteúdo e formato?
Sim, claro. Mas se eu pudesse ter meus patrocinadores e ficar na Globo, ficaria. A Globo.com, assim como a Globo num geral, é disparado o que te da mais audiência e mais facilidade com tudo. Diz lá pro jogador que é pro Blog da Globo e diz que não é. Tem diferença. Ele atende o da Globo …


3. Por que a seleção brasileira não empolga mais o torcedor?
Porque a CBF fez da seleção algo que rivaliza com os clubes. Burrice.


4. Você acredita que o Mano seja capaz de se manter até a Copa de 2014?
Acho que ta começando a complicar. A última convocação dele teve Ronaldinho, uma piada nacional. Todo mundo discordou, ninguém entendeu. Só ele.


5. Se você tivesse a chance de entrevistar o técnico Muricy Ramalho qual seria a principal pergunta?
Já tive, já entrevistei, já perguntei, ele não responde se for dura a pergunta. Não adianta entrevista-lo. Se for fácil ele responde, se for complicado ele te ofende.


6. Em um de seus posts, você comentou que os cariocas estavam participando ativamente do blog. Esperava tanta repercussão no Rio de Janeiro?
Não, não esperava. Mas adorei. Prefiro o futebol Carioca ao Paulista e prefiro o estilo do carioca de ver futebol do que o do paulista. Futebol é diversão, só.


7. Futebol ou carnaval: qual a sua preferência?
Futebol, mas como é meu trabalho e hoje é sexta-feira… Carnaval!


8. Como jornalista esportivo, você teria problemas em divulgar qual seu time do coração?
São Paulo. Nunca escondi.


9. Como surgiu a idéia do Perrone de Ogum e qual a previsão de acerto?
Surgiu de algumas vezes que no twitter eu comecei a cravar uns absurdos! E aconteceu. Ai ficou a brincadeira


10. Para o Perrone de Ogum, quem será campeão da Copa do Brasil, Libertadores e Brasileiro?Botafogo, Fluminense ou Inter e… Santos.
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Literatura

Morte sob a lona

Luis Eduardo Souza Costa


Lamentavelmente, a tragédia do último dia 25 de janeiro no centro da capital carioca, vem se juntar a um histórico macabro de acidentes (de causas naturais ou não) que atormentam a memória da cidade e do estado. Em outubro de 2011, um vazamento de gás, ocorrido em um restaurante da Praça Tiradentes (região bem próxima ao recente desabamento dos três edifícios) deixou um saldo de três mortos e dezessete feridos. Em janeiro do mesmo ano, a Região Serrana do estado contabilizou cerca de 900 vítimas em função dos deslizamentos ocasionados pelas chuvas incessantes que atingiram aquela área.


No Morro do Bumba, em Niterói, 276 vidas foram perdidas em abril de 2010. Mais uma vez, a combinação de fortes chuvas com a inadequação do terreno para a construção de moradias (o local era um antigo aterro sanitário) foi o estopim da tragédia.


Voltando ao centro do Rio, não se pode esquecer o incêndio do Edifício Andorinha, em 17 de fevereiro de 1986, com um saldo de 20 mortos e cerca de 50 feridos. Na época, ficou constatado que o prédio não atendia aos requerimentos mínimos do Código de Segurança contra incêndios. A construção foi demolida em 1996.


Quinze anos antes, parte do Elevado Paulo de Frontin, na altura da Rua Haddock Lobo, no Estácio, desabou matando 28 pessoas e ferindo 30. O viaduto estava em construção e caiu após um caminhão-betoneira, carregado de cimento e pedras, ter passado sobre a pista.

Todos esses tristes eventos, em maior ou menor grau, representaram tragédias que chocaram o país e destruíram inúmeras famílias. No entanto, uma delas, ocorrida em Niterói nos anos 60, pode ser considerada emblemática como uma sombra permanente na memória coletiva.




Em 17 de dezembro de 1961, um domingo, o Gran Circo Norte Americano iniciava sua matinê com cerca de 3000 pessoas, em sua maioria crianças, na platéia. Faltando poucos minutos para o fim do espetáculo, realizado sobre um calor sufocante, uma trapezista dava o grito de alerta que pôs a multidão em pânico. Ao potente grito de fogo, seguiu-se um tumulto generalizado, em que a maioria dos espectadores tentava sair pela entrada principal do circo, que não comportava o volume de pessoas em desespero. Como resultado, muita gente foi pisoteada, enquanto a frágil lona (de material inflamável) sucumbia ante a força das chamas. Em poucos minutos, a estrutura ruiu, caindo sobre todos que tentavam em vão escapar daquele inferno. Em menos de vinte minutos, tudo estava destruído, centenas de pessoas mortas, um incontável número de feridos e um sofrimento eterno pairando sobre a cidade sorriso.


Essa história foi resgatada pelo jornalista Mauro Ventura, no recém lançado “O Espetáculo Mais Triste da Terra” (Companhia das Letras), obra que conta todo o drama que comoveu o país.


O autor investiga aspectos pouco lembrados da tragédia, como o fato de o Hospital Antônio Pedro, o principal da cidade, estar fechado na ocasião, em função de suas precárias condições de funcionamento. Teve que ser reaberto em caráter de emergência, sendo que os feridos foram transferidos para todas as instituições de saúde da região e das cidades próximas. O livro reconta em detalhes o mutirão de médicos , enfermeiros e demais profissionais de saúde, que se mobilizaram na tentativa de salvar os feridos, muitos deles, com queimaduras em mais de 80 % do corpo. Vale ressaltar, que o incêndio foi o principal motivador do reconhecimento da Cirurgia Plástica como especialidade socialmente relevante da medicina. Foi a partir dali, que ganhou notoriedade o nome do Dr. Ivo Pitanguy.


Como não poderia deixar de ser, o cerne da narrativa são as tragédias pessoais. Os personagens que, muitas vezes por um pequeno detalhe fruto do acaso, deixaram de comparecer ao espetáculo e se salvaram, ou ainda, não planejavam estar ali e foram tragados pelo destino. Dos sobreviventes, destacam-se as histórias de Lenir Ferreira e Marlene Serrado, que perderam suas famílias no incêndio e sobreviveram milagrosamente, após longos meses de internação, durante os quais foram desenganadas pelos médicos, além do fotógrafo Luiz Gomes da Silva, vulgo Luiz Churrasquinho, que, com inacreditável bom humor desdenha das marcas de queimaduras que carrega há mais de 50 anos.


Embora o inquérito policial tenha apontado um culpado, o desempregado Dequinha, que confessou ser o autor do incêndio em uma vingança contra o porteiro do circo, que o havia barrado na entrada. Há até hoje, sérias controvérsias sobre a origem das chamas. Muitos acreditam que Dequinha (que tinha baixo desenvolvimento mental) foi forçado à confissão como uma forma de resposta das autoridades ao clamor popular, que exigia uma explicação para o ocorrido. Não são poucos os que afirmam que as condições das instalações elétricas eram precárias e teriam sido a causa do fogo.O fato é que Dequinha cumpriu parte da pena. Foi solto em 1973 e assassinado pouco depois.


O trauma foi tão grande que somente 14 anos depois, um circo voltaria à Niterói. O local onde se deu o incêndio ficou abandonado por 7 anos, quando o espaço serviu de sede para a construção da Policlínica Militar de Niterói. Antes (de 62 a 65), o terreno vazio e ainda com resquícios da tragédia, foi ocupado por aquele que se tornaria o personagem símbolo do incêndio: o ex-comerciante José Datrino, que ao ouvir a notícia, teve uma visão mística, abandonou seu próspero negócio, a família e os amigos e assumiu a identidade que o deixaria famoso pelos 35 anos seguintes, Profeta Gentileza.


Não há consenso sobre o total de mortos. Estima-se de 300 até cerca de 1000 vítimas. A única certeza é que, apesar da dor da lembrança, o incêndio do Gran Circo merece ser recordado como um monumento à solidariedade dos inúmeros voluntários que se doaram ao próximo, à garra dos sobreviventes que reconstruíram suas vidas ou ainda, à memória de tantos inocentes que sucumbiram naquela tarde domingo.

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Utilidade Pública

Tragédia no Centro
De acordo com a Secretaria de Urbanismo, já passam de 400 denúncias de possíveis irregularidades em obras. Trata-se de um número alto, levando-se em consideração o curto tempo do desastre no Centro.



Participei da cobertura pela Rio TV Câmara, empresa que trabalho, e pude estar mais perto do que a maioria dos que, provavelmente, estarão lendo este texto.
Para início de conversa, tínhamos a informação de 21 famílias cadastradas em busca de parente desaparecidos. Esse número caiu para 20. Sendo assim, ainda faltam três corpos que ainda não foram encontrados.
Acho importante destacar um depoimento extraído de uma entrevista que fiz com o vereador Marcelo Arar. Ele mencionou a falta de fiscalização da prefeitura e o fato de cidadãos não atentarem para a responsabilidade de uma obra.
Infelizmente, poucos são àqueles que contratam um engenheiro para uma obra. Fato que para qualquer mudança ao projeto original da planta, um profissional precisa ser consultado. No entanto, isso gera custos adicionais e, na maioria das vezes, muita burocracia na prefeitura.
Para evitar novos desastres como o ocorrido, é fundamental que a Prefeitura fiscalize prédios, que a Câmara dos Vereadores atue em suas comissões e que a população também tenha sua dose de responsabilidade. Não podemos permitir que este fato seja apenas capa de jornal e vire suíte nos dias seguintes. São vidas que se perdem e não voltam.

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Nos próximos meses teremos a polícia tentando encontrar culpados e políticos utilizando esse desastre para ganhar votos.

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Triste saber que funcionários da Prefeitura roubaram objetos nos destroços do desabamento. Essa é uma cena corriqueira em casos de enchentes, por exemplo. Prova viva que pessoa ruim não tem coração e não conhece a palavra solidariedade.

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Exclusivo

“O Brasil precisa ter uma mudança de mentalidade”


A agenda do Rio de Janeiro está cheia até 2016. E um desses eventos será neste ano. A Rio+20 ocorrerá vinte anos após a Rio-92. Em um momento que temas como aquecimento global está em voga, nada melhor do que discutir temas como economia verde e conscientização ambiental. Em uma entrevista exclusiva ao Blog Desburocratizando, o ambientalista Carlos Henrique Painel da Alternativa Terrazul e facilitador do GT Rio afirmou que precisamos “evitar que o mercado se aproprie dos bens comuns e faça a precificação da natureza”, afirmou.






1. A Câmara dos Deputados propôs que a Rio+20 seja um marco de desenvolvimento sustentável com responsabilidade social. Você acha possível?

Não, até porque a Câmara dos Deputados não tem governabilidade sobre a Rio+20 que é uma proposta do então presidente Lula em uma reunião na ONU em Nova York, em 2007, e foi uma proposta do governo brasileiro. Demorou um ano e meio para ser aprovada pela ONU tendo de fazer alguns ajustes, pois queriam incluir uma revisão do que aconteceu desde a ECO-92. A Câmara dos Deputados criou uma subcomissão que está viajando alguns lugares do Brasil, mas ela em si, não tem governabilidade para tocar o processo que está sendo organizado, principalmente, pela Casa Civil e pelo Ministério das Relações Exteriores.


2. Quais são as suas perspectivas para este evento?

A política é muito multifacetada. Hoje é uma coisa, mas amanhã pode ser muito diferente. Mas hoje, eu não acredito que nós avancemos muito nas posições que a gente tem. Saiu agora um documento da ONU que reúne as propostas do mundo inteiro para a Rio+20. É um rascunho do que vai ser debatido aqui. Eles estão dizendo que os compromissos que vão ser colocados aqui na Rio+20 são compromissos voluntários. Se quiser aderir, adere. Se não quiser, não adere. Aquele que aderir, mas não cumprir, não terá nenhuma sanção. É algo muito frouxo. O Protocolo de Kyoto termina no final deste ano e não existe um acordo para o clima. A Cop 15 foi que salvou alguma coisa, mas é muito incipiente diante da gravidade que é o problema do clima no planeta. Não há governabilidade muito grande. Entre os três principais atores que nós temos para a Rio+20 que são os governos, a sociedade civil e os empresários, quem está mais preparado são os empresários para tentar que a economia verde, ou seja, que o meio ambiente entre para uma economia de mercado que é tudo que a sociedade civil não quer.


3. Qual será a importância da Cúpula dos Povos nesta discussão?

Eu acredito que a Cúpula dos Povos é a única maneira de se forçar uma mudança de comportamento dos governos no sentido de assumir compromisso. A Cúpula dos Povos nada mais é do que a união de grande parte da sociedade civil mundial. Essa sociedade civil que está viva, que está pulsando que estamos trazendo para cá para poder forçar com pessoas na rua, com propostas a conferência principal que vai ocorrer no Riocentro. A Cúpula dos Povos é a única maneira da gente pode forçar essa barra. Ao mesmo tempo, a Cúpula não é um evento em si. Ela é um processo. A gente sabe que pode não conseguir grandes resultados aqui na Rio+20 no período que vai acontecer, mas se a gente conseguir aglutinar forças, pontos em comum que todos esses movimentos no mundo possuem para tentar fazer uma agenda e forçar uma barra com os governos em todos os encontros mundiais que irá acontecer pós-Rio+20, a gente acredita, então, que pode conseguir uma reorganização da sociedade civil.


4. É a primeira edição da Cúpula dos Povos?

É. Na Eco-92 foi feito um evento parecido chamado Fórum Global no Aterro do Flamengo.







5. 20 anos depois, você acha que dá dimensionar à Rio+20 a importância que teve a Eco-92?

Nãp, para você ter uma idéia, o evento da Rio-92 teve doze dias de duração. Esse evento agora terá apenas três dias de duração. Tem algo que eu acredito que enfraquece muito, que é muito temeroso que é o fato de dias depois da Rio+20 uma reunião da G-20 no México. O primeiro ministro inglês, David Cameron, que se elegeu dizendo que seria o maior governo ambiental da história, já disse que não virá para a Rio+20. Eu acredito que a gente não vai chegar nem perto dos grandes tratados que foram assinados na Rio-92.


6. Mas você acha que é possível a gente sair da Rio+20 com algum acordo assinado?

Apenas voluntários com alguns países dizendo que vão cumprir algumas promessas. Algum acordo como o Tratado da Biodiversidade, Tratado do Clima, Agenda 21, eu acho muito difícil. Agora, as coisas mudam. Se acontecer, por exemplo, uma grande catástrofe climática por aí, as coisas podem mudar. Hoje o cenário não é. Tanto que o governo sabendo da possibilidade de fracasso da Rio+20 criou também um evento para a sociedade civil para competir, entre aspas, com a Cúpula dos Povos, chamado de Diálogos para a Sustentabilidade. Então, de alguma maneira, o governo também quer influenciar no processo oficial. O país hoje tem um protagonismo meio ufanista, mas ele está fazendo várias regressões como o Código Florestal, no tratamento com os indígenas, o pequeno agricultor estão tendo uma grande dificuldade. Enfim, para você ter uma idéia, o documento oficial que saiu do país para a Rio+20, o Brasil é o maior produtor mundial de agrotóxico. Cada brasileiro bebe mais de cinco litros de agrotóxico por ano. E a palavra agrotóxico sequer é mencionada no documento.


7. Qual seria a prioridade brasileira em um novo tratado? O que o Brasil precisa mais evoluir nesse sentido?

Eu acho que precisa uma mudança de mentalidade. O Brasil está hoje com a mentalidade pós-revolução industrial na Europa e Estados Unidos consumindo todos os seus recursos naturais e esgotando tudo que lhe é precioso. Não existe mais uma floresta em pé na Europa. Eles já acabaram com tudo. No Sudeste da Ásia estão fazendo a mesma coisa. Então, a mentalidade de desenvolvimento que o Brasil está colocando é muito retrógada. Ela deveria estar fazendo isso pensando no meio ambiente. A Usina de Belo Monte não é feita para os moradores. Ela serve para a indústria, principalmente a de alumínio. O Japão fazia isso há vinte anos. Ele só produz, hoje, para uso externo. O Brasil quer esgotar todos esses recursos para crescer e gerar riquezas. O Brasil precisa ter uma mudança de mentalidade. Se não acontecer, fica difícil pensar em grandes avanços.


8. No final do ano passado, Canadá abandonou o Protocolo de Kyoto afirmando que ele não funcionava. O senhor concorda?

É verdade. Ele não funciona. Os maiores emissores, Estados Unidos e China, não participam. Por que o Canadá que assinou o protocolo teria sanção? O protocolo de Kyoto prevê sanção. Por isso, o Brasil também não assinou. Provavelmente, ele saiu pois não teria como manter as promessas feitas e evitar, assim, uma sanção.


9. É possível pensar em um acordo internacional sem a participação de Estados Unidos e China?

O problema que a indústria do combustível fóssil nos Estados Unidos é dominante. Já a China tem a maioria de suas termelétricas baseadas em carvão e em óleo. Eu acredito que da mesma menira que o Obama conseguiu implementar uma política de saúde universal, como a feita aqui no Brasil, eu acho que ele, não agora que será eleição nos Estados Unidos, se reeleito, assuma essa bandeira que ele prometeu na última eleição. Eu tenho a esperança que o Obama possa trabalhar a questão ambiental em seu segundo mandato.






10. Como que a sociedade civil pode participar da Cúpula dos povos?

A Cúpula dos Povos reúne uma grande quantidade de organizações, redes e fóruns de grande capilaridade nacional. E ela está puxando as discussões, mundo afora, sobre a Rio+20. A sociedade civil brasileira, a carioca em si, tem como se engajar nos encontros do GT pela sociedade civil. Ele é muito divulgado no site da Cúpula dos Povos e pelas redes sociais. A gente está construindo a agenda da Cúpula dos Povos para mostrar para o mundo que uma economia verde já existe com as vertentes da economia criativa, economia solidária e de uma nova forma de pensar e evitar o consumo ensandecido como está ocorrendo. A Cúpula dos Povos vem tentar dar um tom diferente.


11. Você acha que, de certa forma, todos esses eventos que estão programados até 2016 podem facilitar os trabalhos para a propagação da Cúpula dos Povos?

A Cúpula dos Povos é parte de um processo. Ela não começa nem termina. É um processo contínuo. A grande questão é que o apelo da Rio+20 está sendo muito grande. A primeira missão da Cúpula agora é evitar que o mercado se aproprie dos bens comuns e faça a precificação da natureza. A gente quer frear isso. A economia verde não pode virar mercado.

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Memórias

Um perfil afetivo. Nada mais que isso

Luis Eduardo Souza Costa


Naquela manhã de 19 de janeiro de 1982, eu era uma criança de 7 anos e não entendia a comoção em torno da notícia da morte de uma certa Elis Regina, dada no Jornal Hoje. Elis não fazia parte dos artistas da minha infância, não fequentava os programas de Chacrinha, Silvio Santos ou Raul Gil, que eu assistia assiduamente. Na minha casa, o único disco da cantora (de 1972, com “Casa no Campo”) não estava no Hit Parade doméstico. Jazia inerte entre outros menos cotados. Só tive algum tipo de intereresse pela notícia quando descobri que aquela artista cantava “Romaria”, uma música que eu conhecia pois era tocada pelas freiras do colégio onde estudava.





Só muito mais tarde descobri a importância de Elis para a MPB e a riqueza ímpar e seu repertório, mesmo assim, não me transformei necessariamente em um fã, mas em alguém que respeitava o seu trabalho.

A obra de Regina Echeverria, foi publicada pela primeira vez em meados dos anos 80, quando as bases da Biografia Brasileira por excelência ainda não tinha sido fundadas por Ruy Castro e Fernando Morais. Isso explica, em parte, as lacunas e os defeitos encontrados em “Furacão Elis”. A autora, que foi amiga da cantora, abusa dessa intimidade e a todo momento faz uso de observações subjetivas, como em um livro de memórias. Na verdade, não se pode classificar o livro como uma biografia, está mais para um perfil afetivo da genial e geniosa intérprete de “Madalena”, construído através dos depoimentos das pessoas que com ela conviveram, muitos transcritos na íntegra, em diversas páginas. Também há a reprodução de alguns recados e cartas de Elis para seus amigos e colegas. Todo esse material poderia ter sido melhor aproveitado se fosse absorvido pela autora na cosntrução da história, como feito recentemente por Nelson Motta em seu livro sobre Tim Maia; por Denilson Monteiro, na seminal biografia de Carlos Imperial; ou ainda, por Paulo César Araújo, no injustamente proibido “Roberto Carlos em detalhes”. Enfim, o mérito de “Furação Elis” está apenas no fato de ser uma provável porta de entrada para uma futura biografia da cantora, com todo o rigor e destreza literária que a sua trajetória merece.

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Exclusivo

“As histórias são ou foram do meu dia-a-dia”


Sabe aquela típica história que o criador se confunde com a criatura? Pois bem, não há como não desassociar Maurício de Sousa da Turma da Mônica. Em uma entrevista exclusiva ao Blog Desburocratizando, ele fala sobre projetos e como surgiu a idéia de criar a Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali, personagens tão famosos pelas crianças e adultos. “Desde sempre quis fazer minhas próprias historinhas, criar meus personagens. Escrever sobre temas que eu dominasse. Por isso fui buscar histórias com crianças”, afirma.





1. Personagens como a Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali já estão inseridos na cultura brasileira. Como surgiu a idéia de criar esses personagens? Há um pouco deles no seu dia-a-dia?

Desde sempre quis fazer minhas próprias historinhas, criar meus personagens. Escrever sobre temas que eu dominasse. Por isso fui buscar histórias com crianças. Afinal, eu era jovem e me lembrava bem dos episódios vividos fazia poucos anos. Consequentemente as histórias são ou foram do meu dia-a-dia.

2. Hoje, você ainda está escrevendo histórias ou está administrando o conteúdo que será publicado?

Acompanho toda a criação dos roteiristas. Dou palpites, às vezes sugiro lay-outs, expressões corporais ou faciais para melhorar o entendimento do roteiro. Mas no geral (infelizmente) não estou escrevendo mais. Administro o trabalho de 17 roteiristas.





3. Como você lida com aqueles que criticam o trabalho devido às especificidades de cada personagem. (Me refiro ao fato de o Cascão não tomar banho, o Cebolinha ter os erros de português ...)

O publico já aprendeu a lidar e se aproveitar disso (ate na educação). Assim, estou deixando de responder a essas questões.

4. Como está sendo a receptividade da Turma da Mônica, versão teen?

A revista da Turma da Mônica Jovem é uma das mais vendidas do mundo.

5. Ao longo do tempo, foram sendo criados personagens com temas de repercussão em nossa sociedade, como deficientes visuais, cadeirantes e homossexuais. Fale um pouco mais sobre esse engajamento?

Sempre que possível, crio novos personagens para preencherem espaços que, na vida real, são evidentes. Com isso penso que nossas historinhas podem levar propostas, mensagens, muito mais próximas da realidade. Unindo o entretenimento ao comportamento.

6. Nesse sentido, há proposta para novos personagens engajados?

Irão surgindo.



7. Por curiosidade: podemos pensar em um final feliz entre a Mônica e o Cebolinha?

Se você reparar bem, todas as nossas histórias têm finais felizes. No seu contexto temporal.

8. Fale um pouco mais do trabalho feito pelo Instituto Cultural Maurício de Sousa.

O Instituto foi criado para atendimentos a eventos sociais ou culturais. Como tal, tem melhores condições de trabalhar com entidades, como ele, sem fins lucrativos.

Fotos: Divulgação MSP
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Literatura

A História na versão do homem do Plim Plim

Luis Eduardo Souza Costa


A grosso modo, a televisão está para o Brasil assim como o cinema está para os EUA, o teatro para a Inglaterra e a literatura para a França. Às vezes arte, às vezes pop, muitas outras, lixo, a diferença fundamental é que ao contrário das manifestações citadas em seus respectivos países, a televisão brasileira sempre careceu de um registro histórico sólido de sua trajetória de pouco mais de 60 anos. Bastaria dizer, que da atração inaugural que deu a largada na TV Tupi paulista, restam poucas e imprecisas fotos. Outros momentos importantes foram dizimados nas cinzas dos muitos incêndios que acometeram as emissoras ou do simples descaso, que denotava ao meio um grade menor entre os meios de comunicação.


Não faz muito tempo, felizmente essa história começou a mudar. Em 1991, foi publicada aquela que, em minha opinião, foi durante muito tempo a principal obra de referência para quem se interessa pelo assunto, o livro “ O Campeão de Audiência”, autobiografia de Walter Clark, durante 11 anos o executivo major da TV Globo, assinada em parceria com o jornalista Gabriel Priolli.


Ao longo dos anos, outros livros, com maior ou menor grau de legibilidade, vieram para preencher essa lacuna histórica, trazendo informações que, uma vez analisadas de forma macro, traçam um panorama do desenvolvimento do nosso maior meio de comunicação. O quase findo 2011 trouxe um marco nessa bibliografia com a publicação do essencial “O Livro do Boni”, que se junta ao “O Campeão de Audiência”, na prateleira mais alta das obras que tratam do assunto.





Independente de qualquer coisa, o livro já é importante só por trazer o depoimento do homem que fez a Rede Globo, primeiro como o responsável pela produção diferenciada que elevaria o patamar da emissora carioca a algo inédito nas nossas artes áudio visuais, e depois, substituindo o demitido Walter Clarck como o Head da Vênus Platinada até a sua saída, em 1998, após 31 anos.


Mas fora a importância e o impacto de seu nome, Boni não se furtou a fazer um livro verdadeiro, de leitura simples e fácil e que repassa a sua carreira desde os primórdios de aprendiz no Rádio (onde foi aluno de ninguém menos que Dias Gomes), passando por suas primeiras experiências na televisão, o longo casamento com a publicidade , até finalmente voltar à telinha, experimentado e com uma visão gerencial do meio praticamente imbatível, colocando em prática suas idéias em várias emissoras (com graus variados de fracasso) até finalmente aportar na TV Globo, em 1967, trazido pelo já citado Walter Clarck.


“O livro do Boni” destila sinceridade ao avaliar episódios, alguns espinhosos, como a demissão de Walter, decidida unicamente por Roberto Marinho em função, segundo o autor, de uma certa negligência do diretor geral nos assuntos internos da TV, fruto dos seus abusos em álcool e drogas, ainda segundo Boni. O fato é que, desde da implantação da rede, em 1969, quando as operações locais da Globo-RJ e da TV Paulista foram centralizadas, toda a operação era comandada por Boni assessorado pelo grupo composto por Borjalo, Joe Wallace, Armando Nogueira, Arce e Daniel Filho. Após 1977, Boni ascende ao cargo de Superintendente (a direção geral com outro nome) e passa a ser o manda chuva de direito, pois de fato já o era.


As relações sempre delicadas com artistas e criadores são relatadas sem rodeios, como a crise que culminou na saída de Glória Magadan e a ascensão de Daniel Filho e Janete Clair ao Olimpo da dramaturgia global; os atritos com programas que não correspondiam à qualidade esperada (com o advento dos terríveis memorandos); a administração das diversas vaidades, etc.



Boni também não foge da polêmica ao abordar episódios em que a Globo saiu chamuscada, como a campanha das Diretas Já (quando a emissora só cobriu a campanha tardiamente, por pressão externa) e o debate do segundo turno da campanha presidencial de 1989, favorecendo Fernando Collor e derrubando o diretor de Jornalismo, Armando Nogueira.


Tais testemunhos, embora como não poderiam deixar de ser, tragam uma carga grande de subjetividade, são o file mignon que tornam a obra um prato cheio para aqueles que buscam entender a nossa comunicação (pois Boni não se atém só à TV, abordando longamente a sua passagem pela publicidade, o que também se constitui em parte fundamental do livro) a partir da segunda metade do século XX. Entendimento esse que não pode prescindir do relato do executivo número um da maior emissora do país. Plim Plim.